07 novembro 2014

Homenagem a Cecília Meireles - coragem, inteligência e sensibilidade


Nossa ONG de mulheres homenageia nesta data, 7 de novembro, uma das maiores poetisas brasileiras (e saibam que temos muitas delas), que teve o seu primeiro livro publicado em 1919, chamado “Espectros”, numa época em que as mulheres não tinham muita voz para escrever e até usavam pseudônimos masculinos, para terem seus textos publicados.


 
Cecília Meireles faria 112 anos, se ainda estivesse entre nós, mas como seus livros, peças de teatro, textos e pensamentos são atemporais, ela, com certeza, escreveria suas mesmas sábias frases, na data de hoje.  Sua obra mais conhecida, publicada em 1953, intitula-se “Romanceiro da Inconfidência”.

Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901 – 1964) foi poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. Sendo considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa, militou em favor da educação.

 

Neste momento que se avizinha a data da proclamação da República do Brasil, 15 de novembro,  reconhecemos que escrever é registrar seus pensamentos, conhecimentos e valores, o que requer coragem e determinação.  Assim sendo, a todas as jornalistas brasileiras, escritoras e poetisas, nossa gratidão por cada palavra escrita, pela coragem e liberdade de expressá-las.






Texto por Tânia Motta Nogueira Reis, advogada, escritora e terapeuta transpessoal.

04 novembro 2014

Sobre a Decência - por Lya Luft


                                                                  
                                                    Texto por Lya Luft , na Revista Veja.

"Certa vez, eu ia dar uma palestra sobre educação. Ainda no hotel, conversei com alguns jornalistas. O primeiro deles a falar, um rapaz simpático, perguntou qual seria o tema da minha apresentação. Respondi: “Educação e autoridade”. Ele piscou os claros olhos e disse, espontaneamente: “Autoridade? Aquilo que diz isso pode, isso não pode?”. Achei graça e confirmei: “Isso mesmo”.

O assunto me voltou à lembrança nestes dias em que tanto se fragilizam o conceito e a instituição “autoridade” no país varado de manifestações e greves. Não quero analisar se elas são justas: geralmente têm sido. Há miséria, omissão, desencanto e injustiça demais por aqui.

Mas eu falo na questão da autoridade: quando se baseia no respeito, encontra eco. Quando mal fundamentada, vem a confusão, como nesta fase em que a inquietação pipoca em tantos pontos e momentos, em toda sorte de protesto.

Um juiz manda que grevistas voltem ao trabalho, ninguém dá bola. Decretam uma greve ilegal, ninguém se impressiona. Ameaçam com demissões, alguns voltam ao posto de trabalho, ou tudo piora. Assim, os grupos de manifestantes de várias categorias, ou juntos, atiçados por partidos políticos ou simplesmente indignados (muito justamente) com sua condição de trabalho e vida, assustados, ou finalmente encontrando sua voz, parecem não se intimidar.

Isso é bom, é ruim? Sinceramente: em outros tempos eu diria que é mau presságio. Neste momento, não me sinto com cacife para responder. Muitos dos movimentos parecem legítimos. Para atrapalhar, há o contraponto: milhões de pessoas prejudicadas por algumas centenas, é justo?

Não sou do tipo severo, não sou rigorosa demais, porém me preocupa esse singular sentimento de mal-estar, expresso por tanta gente quando diz: “Tem algo esquisito no Brasil, algo estranho paira no ar, não consigo definir bem”.

Muitas coisas inquietantes acontecem, talvez tantas que não se possam qualificar com uma expressão só. Mas um dos fatores dessa situação é a quebra da autoridade, e de seu irmão, o respeito: isso se conquista. Respeito é essencial para que qualquer coisa funcione: tem a ver com hierarquia, com cuidados, como na família – organização em que tudo começa.

Quem ama cuida e, em certos momentos, precisa exercer autoridade, sobretudo com relação a crianças e adolescentes. Pois, se os adultos não conseguem ter, e impor, um mínimo de ordem no ambiente familiar, na compostura dos filhos (e de si próprios), não haverá uma família, mas um grupo desordenado, possivelmente belicoso, confuso e de pouca ajuda na preparação para os embates da vida lá fora.

Talvez, nesse território pessoal, fosse bom deixar um pouco de lado os psicologismos (não falo da verdadeira psicologia, que pode ajudar a minimizar graves problemas individuais ou de convivência), que nos sugerem exercer quase zero de autoridade, e nada de severidade, tentando sempre “o diálogo”.
Nem sempre é possível dialogar com uma criança enfurecida ou um adolescente confuso, e uma dose amorosa de rigor pode pôr as coisas de novo em ordem, aliviando a situação.

No âmbito do que está acontecendo e do que está por vir no Brasil, me assombra e me assusta, entre outras questões, a do autoritarismo – jamais a autoridade conquistada com competência, sabedoria e honradez, cuidando de cada um de seus membros, acima e além de qualquer ânsia de poder, assim promovendo também a justiça verdadeira.

Se não somos iguais – nem devemos ser, pois cada indivíduo é único, cada grupo, região, país e cultura são únicos -, o essencial é que todos tenham a máxima dignidade para se sentir respeitados, e as melhores condições para que possam se desenvolver.

Segurança, tranquilidade, educação, saúde, moradia, transporte deveriam ser bens óbvios de cada pessoa. Copa ou não Copa, é bom rever nossos valores em todos os níveis. Pois, se continuar a generalizada inquietação social cada dia mais grave, desmoronam as instituições que nos orientam, amparam e nos tornam (ainda) uma democracia."

Lya Fett Luft, escritora brasileira, tradutora, pedagoga e professora universitária, nascida em 15.09.1938, em Sta. Cruz do Sul, RS, é colunista da Revista Veja.