15 janeiro 2016

A Apropriação de Cultura Espiritual - por Diana Motta

                                                                      
                                                               por Diana Motta, em 11.01.16.


Um assunto que se tem falado muito, ultimamente, é sobre apropriação cultural, que é a assimilação de particularidades características de uma cultura por um grupo étnico diferente, que pode acarretar em uma visão negativa para com esse grupo minoritário que foi expropriado, culturalmente, ao passo que a cultura dominante é admirada pela característica adotada da minoritária.
Tem-se visto a expressão “apropriação cultural” vinculada a temas como a assimilação da cultura negra pela branca, como o uso de dreads e tranças, culturalmente negros, assimilados como sendo da cultura branca dominante.  Assim, ocorre, por exemplo, cantores brancos usando tal peculiaridade cultural capilar dos negros para se promoverem.

Porém, neste texto será discorrida a apropriação de cultura espiritual, que de tão comum, as pessoas simplesmente não a percebem e tomam como verdade a apropriação cultural feita pela religião dominante, ou seja, a de maior número de adeptos.
Demasiado conhecida é a história de Adão e Eva, em especial por fazer parte da cultura espiritual do Cristianismo e Catolicismo – ledo engano.  Esta história foi originalmente escrita pelos hindus e está presente nas escrituras sagradas dos Vedas, conhecida pelo nome de Adamus e Hevas.
Muitos pensam que o Cristianismo foi criado por Jesus, quando, na verdade, foi criado pelos seus seguidores.  Tem sido uma construção histórica não só de uma era, mas uma “metamorfose ambulante”, como diz Raul Seixas, de vários períodos históricos desde a morte de Jesus.  Cristãos e católicos, comumente, não acreditam em reencarnação, todavia eles o deveriam, pois a reencarnação é um conceito bíblico, que, infelizmente, foi retirado do mesmo livro pelo presunçoso imperador Constantino, no Concílio de Nicéia, no ano de 325 d.C.  Porque, se ele deixasse tal conceito estar na Bíblia, as pessoas o enxergariam não como um imperador, mas como uma alma que pode tanto encarnar como imperador com suas benesses, ou como um indivíduo pobre.  E, acima de tudo, ele, numa encarnação menos afortunada, pode pagar pelo seu excesso de arrogância de sua existência como imperador.
A Cruz, por exemplo, é uma apropriação de cultura espiritual pouco conhecida.  Algumas das mais antigas imagens de cruz foram encontradas, nos estepes da Ásia Central, e pertenciam à velha religião altaica do Tengriismo, que simboliza o deus Tengri. Entretanto, também havia, na antiga Caldeia o símbolo da cruz para simbolizar o deus Tamuz, tendo a forma do Tau místico - letra capital de seu nome.  Objetivando aumentar o prestígio do Cristianismo, no século III d.C., passou-se a aceitar pagãos na Igreja, e assim, tal sistema eclesiástico começou a adotar símbolos pagãos.  Deste modo, ocorreu, no Cristianismo,  a apropriação do símbolo da cruz do Tau, com a linha horizontal um pouco mais elevada para lembrar a cruz de Jesus.
Tantas outras pessoas, no presente século, notadamente no Brasil, pensam: “quem acredita em reencarnação só pode ser espírita.”  Não, tal crença não é, e nunca foi, exclusiva do Espiritismo, que nasceu recentemente, no século XIX, através do trabalho de Allan Kardec.  Se determinado indivíduo acredita no conceito de reencarnação este pode ser: espiritualista, hindu, budista, jainista, shamanista, shintoísta, taoísta, ocultista, teosofista, hermetista, celta ou espírita.  Também incluindo aquelas religiões que já foram quase “extintas”, pois não há representantes vivos, hoje em dia, como a corrente espiritual altaica do Tengriismo.  Assim, pode-se constatar que o conceito da alma passar de corpo para corpo não pertence exclusivamente a nenhuma religião.
De fato, o primeiro registro histórico da reencarnação dá-se há 5000 a.C. pela civilização egípcia, no qual eles simbolizavam o espírito que deixava o morto como um corpo de pássaro com uma cabeça humana, uma metáfora ilustrada.  A ave humanóide era chamada de Ba, que pode tomar a forma que desejar, ou seja, é o chamado perispírito (no Espiritismo) ou corpo astral (para teosofistas e ocultistas), ou mesmo corpo espiritual  ( no Cristianismo – Coríntios 1, cap.15, vers. 44). E o Ba porta o Ka, que é o próprio espírito – o corpo mental (para teosofistas e ocultistas), chamado de corpo búdico (iluminado) pelos budistas e atma para os hindus.
Comumente, acredita-se que o conceito dos chakras seja de propriedade espiritual do Espiritismo.  Inclusive, no ano de 2015, fui interrogada por um espírita imodesto se eu sabia o que eram e quais eram os chakras.  Tal indivíduo era de um centro espírita, no qual um palestrante blasfemou sobre os hindus; então vi, nesta ocasião, a oportunidade de esclarecer e honrar a cultura profanada, naquele ambiente.  Assim, expliquei-lhe que os chakras são vórtices de luz, que se localizam próximo das principais glândulas endócrinas, que são sete, e possuem as cores do Prisma Newtoniano.  Expus que a cultura que primeiramente estudou e nomeou os chakras, a Hinduísta, e que o motivo do nome é uma alusão ao disco de luz, que se situa em volta do dedo da mão da divindade Vishnu, instrumento tal que tinha o nome de chakra.  Como esses centros endócrinos pareciam tanto com o chakra de Vishnu – um instrumento de purificação – foram nomeados em sua homenagem.
Assim, respondendo a segunda pergunta do indivíduo, dei-lhe o nome dos chakras, obviamente, na sua nomenclatura original, de baixo para cima: muladhara, swadhistana, manipura, anahata, vishudha, ajna e sahasrara.  E o “incrédulo Tomé” respondeu: “Mas, aqui, falamos diferente.”  Expliquei, que depois dos hindus, outras correntes espirituais como o Ocultismo e a Teosofia estudaram os chakras e o nomearam de maneira diferente; então falei a ordem que ele esperava ouvir: chakra básico ou raiz, chakra sacro, chakra do plexo solar, chakra cardíaco, chakra laríngeo, chakra frontal ou do terceiro olho, e chakra coronário ou das mil pétalas.
Recentemente, outro espírita comentou que o Espiritismo permeia todas as religiões, cada uma delas tendo uma parcela que foi elaborada por esta corrente espiritual.  Pasmem! É a isso o que é chamado de “apropriação de cultura espiritual”, pois o que permeia a todas as religiões é a espiritualidade, que não pode ser patenteada, como alguns adeptos fanáticos acreditam.  Além da espiritualidade permear todas as religiões, lastimavelmente, o fanatismo está também presente em devotos de todas elas.
Ainda hoje, dia 11 de janeiro, tomei conhecimento da existência de um centro espírita chamado algo como (para não citar nomes) “Centro Espírita de Ramatis”. Visto que Ramatis – espírito de luz desencarnado – não é espírita e, sim, hindu.  Ramatis é um espírito extremamente elevado, que visa trazer a sabedoria do Oriente ao Ocidente de modo mais didático para os contemporâneos absorverem.  Este mentor passa suas mensagens através de médiuns pelo recurso espiritual da psicografia.  Ramatis não pode pertencer a uma sociedade espírita, cristã, ou qualquer que seja, pois ele é espiritualista.  Espiritualismo é a doutrina que acredita na existência de espíritos imateriais e na imortalidade da alma, além de estudar a essência espiritual que está presente em todas as correntes espirituais. Sendo ele um espiritualista hindu, e, acima de tudo, um sábio, ele passa seus conhecimentos a quem estiver aberto a receber e tenha a capacidade mediúnica para tal, não importando a religião do médium.



Medium, do latim, significa, “aquele que está no meio”, o intermediário entre o plano material e o astral. Vale lembrar que a capacidade parapsíquica (mediúnica) de alguém não está diretamente proporcional ao seu nível espiritual.

Portanto, cabe a cada indivíduo pesquisar não apenas sobre a sua corrente espiritual, como também outras, para, assim, desenvolver discernimento e não padecer pelo fanatismo religioso profano, pois como dizia o mestre hindu Jiddu Krishnamurti:"Há vários caminhos para a Verdade." Então, compete a nós trilharmos nossa senda espiritual com discernimento e sabedoria, respeitando aos irmãos de caminhos diferentes; afinal, todos nós temos o mesmo destino, retornar para a Casa das Estrelas - morada do Divino.


Diana Motta - estudante de Psicologia, acadêmica do NSHSS - National Society of High School Scholars - EUA (Sociedade Nacional dos Acadêmicos do Ensino Médio americano), espiritualista e gemósofa, ilustradora do livro "Casei de Ser Sapo! Guia Básico para Príncipes". www.anaturezaadolesceemmim.blogspot.com.br
e-mail de contato: dianamotta15@hotmail.com