Um assunto que se tem falado muito, ultimamente, é
sobre apropriação cultural, que é a assimilação de particularidades
características de uma cultura por um grupo étnico diferente, que pode
acarretar em uma visão negativa para com esse grupo minoritário que foi
expropriado, culturalmente, ao passo que a cultura dominante é admirada pela
característica adotada da minoritária.
Tem-se visto a expressão “apropriação cultural”
vinculada a temas como a assimilação da cultura negra pela branca, como o uso de
dreads e tranças, culturalmente
negros, assimilados como sendo da cultura branca dominante. Assim, ocorre, por exemplo, cantores brancos
usando tal peculiaridade cultural capilar dos negros para se promoverem.
Porém, neste texto será discorrida a apropriação de
cultura espiritual, que de tão comum, as pessoas simplesmente não a percebem e
tomam como verdade a apropriação cultural feita pela religião dominante, ou
seja, a de maior número de adeptos.
Demasiado conhecida é a história de Adão e Eva, em
especial por fazer parte da cultura espiritual do Cristianismo e Catolicismo –
ledo engano. Esta história foi
originalmente escrita pelos hindus e está presente nas escrituras sagradas dos
Vedas, conhecida pelo nome de Adamus e Hevas.
Muitos pensam que o Cristianismo foi criado por
Jesus, quando, na verdade, foi criado pelos seus seguidores. Tem sido uma construção histórica não só de
uma era, mas uma “metamorfose ambulante”, como diz Raul Seixas, de vários
períodos históricos desde a morte de Jesus. Cristãos e católicos, comumente, não acreditam
em reencarnação, todavia eles o deveriam, pois a reencarnação é um conceito
bíblico, que, infelizmente, foi retirado do mesmo livro pelo presunçoso
imperador Constantino, no Concílio de Nicéia, no ano de 325 d.C. Porque, se ele deixasse tal conceito estar na
Bíblia, as pessoas o enxergariam não como um imperador, mas como uma alma que
pode tanto encarnar como imperador com suas benesses, ou como um indivíduo
pobre. E, acima de tudo, ele, numa
encarnação menos afortunada, pode pagar pelo seu excesso de arrogância de sua
existência como imperador.
A Cruz, por exemplo, é uma apropriação de cultura
espiritual pouco conhecida. Algumas das
mais antigas imagens de cruz foram encontradas, nos estepes da Ásia Central, e
pertenciam à velha religião altaica do Tengriismo, que simboliza o deus Tengri.
Entretanto, também havia, na antiga Caldeia o símbolo da cruz para simbolizar o
deus Tamuz, tendo a forma do Tau
místico - letra capital de seu nome. Objetivando
aumentar o prestígio do Cristianismo, no século III d.C., passou-se a aceitar
pagãos na Igreja, e assim, tal sistema eclesiástico começou a adotar símbolos
pagãos. Deste modo, ocorreu, no
Cristianismo, a apropriação do símbolo
da cruz do Tau, com a linha
horizontal um pouco mais elevada para lembrar a cruz de Jesus.
Tantas outras pessoas, no presente século,
notadamente no Brasil, pensam: “quem acredita em reencarnação só pode ser
espírita.” Não, tal crença não é, e nunca
foi, exclusiva do Espiritismo, que nasceu recentemente, no século XIX, através
do trabalho de Allan Kardec. Se
determinado indivíduo acredita no conceito de reencarnação este pode ser:
espiritualista, hindu, budista, jainista, shamanista, shintoísta, taoísta,
ocultista, teosofista, hermetista, celta ou espírita. Também incluindo aquelas religiões que já
foram quase “extintas”, pois não há representantes vivos, hoje em dia, como a
corrente espiritual altaica do Tengriismo. Assim, pode-se constatar que o conceito da
alma passar de corpo para corpo não pertence exclusivamente a nenhuma religião.
De fato, o primeiro registro histórico da
reencarnação dá-se há 5000 a.C. pela civilização egípcia, no qual eles
simbolizavam o espírito que deixava o morto como um corpo de pássaro com uma
cabeça humana, uma metáfora ilustrada. A
ave humanóide era chamada de Ba, que
pode tomar a forma que desejar, ou seja, é o chamado perispírito (no Espiritismo)
ou corpo astral (para teosofistas e ocultistas), ou mesmo corpo espiritual ( no Cristianismo – Coríntios 1, cap.15,
vers. 44). E o Ba porta o Ka, que é o próprio espírito – o corpo
mental (para teosofistas e ocultistas), chamado de corpo búdico (iluminado)
pelos budistas e atma para os hindus.
Comumente, acredita-se que o conceito dos chakras seja de propriedade espiritual
do Espiritismo. Inclusive, no ano de 2015,
fui interrogada por um espírita imodesto se eu sabia o que eram e quais eram os
chakras. Tal indivíduo era de um centro espírita, no
qual um palestrante blasfemou sobre os hindus; então vi, nesta ocasião, a
oportunidade de esclarecer e honrar a cultura profanada, naquele ambiente. Assim, expliquei-lhe que os chakras são vórtices de luz, que se
localizam próximo das principais glândulas endócrinas, que são sete, e possuem
as cores do Prisma Newtoniano. Expus que
a cultura que primeiramente estudou e nomeou os chakras, a Hinduísta, e que o motivo do nome é uma alusão ao disco
de luz, que se situa em volta do dedo da mão da divindade Vishnu, instrumento
tal que tinha o nome de chakra. Como esses centros endócrinos pareciam tanto
com o chakra de Vishnu – um instrumento
de purificação – foram nomeados em sua homenagem.
Assim, respondendo a segunda pergunta do indivíduo,
dei-lhe o nome dos chakras,
obviamente, na sua nomenclatura original, de baixo para cima: muladhara, swadhistana, manipura, anahata,
vishudha, ajna e sahasrara. E o “incrédulo Tomé” respondeu: “Mas, aqui,
falamos diferente.” Expliquei, que
depois dos hindus, outras correntes espirituais como o Ocultismo e a Teosofia
estudaram os chakras e o nomearam de
maneira diferente; então falei a ordem que ele esperava ouvir: chakra básico ou raiz, chakra sacro, chakra do plexo solar, chakra
cardíaco, chakra laríngeo, chakra frontal ou do terceiro olho, e chakra coronário ou das mil pétalas.
Recentemente, outro espírita comentou que o
Espiritismo permeia todas as religiões, cada uma delas tendo uma parcela que
foi elaborada por esta corrente espiritual. Pasmem! É a isso o que é chamado de “apropriação
de cultura espiritual”, pois o que permeia a todas as religiões é a espiritualidade,
que não pode ser patenteada, como alguns adeptos fanáticos acreditam. Além da espiritualidade permear todas as
religiões, lastimavelmente, o fanatismo está também presente em devotos de
todas elas.
Ainda hoje, dia 11 de
janeiro, tomei conhecimento da existência de um centro espírita chamado algo como (para não citar nomes) “Centro Espírita
de Ramatis”. Visto
que Ramatis – espírito de luz desencarnado – não é espírita e, sim, hindu. Ramatis é um espírito extremamente elevado,
que visa trazer a sabedoria do Oriente ao Ocidente de modo mais didático para
os contemporâneos absorverem. Este
mentor passa suas mensagens através de médiuns pelo recurso espiritual da
psicografia. Ramatis não pode pertencer
a uma sociedade espírita, cristã, ou qualquer que seja, pois ele é
espiritualista. Espiritualismo é a
doutrina que acredita na existência de espíritos imateriais e na imortalidade
da alma, além de estudar a essência espiritual que está presente em todas as
correntes espirituais. Sendo ele um espiritualista hindu, e, acima de tudo, um
sábio, ele passa seus conhecimentos a quem estiver aberto a receber e tenha a
capacidade mediúnica para tal, não importando a religião do médium.